A minha mente chamou-me
Chega aqui. Senta-te um bocadinho, que pareces cansada. Essa tua mania de te preocupares com cada minuto que não controlas, com cada passo que não dás com os teus pés, vai-te matar. Sabes disso, não sabes? Bem sei, bem sei. Sou eu que te conto coisas aos ouvidos. Que te digo que vai correr mal, e que as pessoas não gostam de ti. Mas, e então? Quem é que te fez tão insegura?
Deixa-te estar. Não vás já. Bebe um copo de água, e relaxa esses ombros. Sempre encolhidos, tolhidos, como se alguém te fosse atacar. Como se te tivesses de defender de alguma coisa. Irrita-me, que não saibas ter calma. Se te enervo? Enervo. Exijo-te alerta máximo a cada momento da tua existência, porque, minha menina, a vida não é fácil. Mas, e depois? Tens de ser assim tão fraca?
Não chores. Toma lá um lenço, vá. Não podes estar sempre a derramar lágrimas como se isto fosse uma tragédia. Certo. Não te deixo dormir, e quando me distraio e adormeces, invento pesadelos para acordares aflita. Pensas que és a única a ter pesadelos? Não és. Mas as pessoas acordam e vão à sua vida. Não é o fim do mundo.
Já vais? Pronto. Deixo-te ir. Não quero que digas que te prendo ou massacro. O que te digo é para o teu bem. Vai lá, que já te encontro. Vou estar no mesmo sítio, a contar-te as mentiras do costume.