O meu sítio calmo é uma canção numa noite de verão
Quando penso num dia calmo, é verão e corre uma brisa fresca que não chega para me desalinhar os cabelos. O anoitecer demora e enamora, como um filtro de luz que nos embala.
Quando tudo é turbilhão, penso na aragem que me sopra a nuca e no arrepio que me percorre a espinha.
"Vai para o teu sítio calmo."
É tarde, mas não sei as horas. O pátio, ainda despido de telhas, é iluminado por uma Lua que só pode estar cheia, e varrido por um vento que mal chega a sê-lo. As lágrimas molham-me o vestido fino e o mau estar percorre-me o corpo. Bebo água fresca com bolhas que me fazem cócegas na língua. "Bebe que já passa. Já passa."
Ergue-me no ar e repousa-me nos ombros. Encosto o rosto molhado aos cabelos finos, alourados como os meus, enquanto lhe laço o pescoço. Cheira ao champô que dividimos. Caminha, para lá e para cá, num passo sereno que me acalenta. Baixinho, quase num susurro envergonhado, canta.
"Menina estás à janela, com o teu cabelo à Lua..."
Quando a vida é tormenta e agitação, e respirar é em vão, eu fecho os olhos. Sinto o frio glorioso de uma noite de verão, a luz de uma Lua que se encheu num balão, o balançar suave de um caminhar sem razão.
E, enfim, canto a canção.