Se caíres, não te demores
"Ai, minha rica filha."
Era assim, de sobressalto na voz e mãos na cabeça, como quem vê a desgraça a passar-lhe rente ao peito, que a minha avó reagia quando me via cair.
Com mais ou menos sangue, mais ou menos lágrimas, o aparato era igual. Nem maior, nem mais pequeno.
"Ai, minha rica filha."
Corria até mim, levantava-me, sacudia-me o vestido, e limpava-me as feridas, se as havia. Depois voltava serena ao que estava a fazer, enquanto anunciava que aquilo não era nada e eu, que fosse à minha vida.
Foi assim pelos anos fora. Condoída por me ver sofrer, mas logo pronta a desfazer os nós que às vezes eu própria emaranhava. É um desapego apegado de quem sabe que tudo se perde, e não há tempo a perder.
Cada vez que me desiquilibro e esfolo os joelhos da alma na vida, ouço-lhe o grito, e sei que, a seguir, vai ficar tudo bem.