Era julho e ele prometeu-me
O meu avô tinha os olhos cor de amêndoa e as mãos ásperas, de dar arrepios. A vida de trabalho no campo tornou-o rígido, mas nunca amargo. Era doce. Como pêssegos no pico do verão. Quando se zangava, arregalava os olhos, como quem diz, sem dizer, "Queres ter problemas?" Não queríamos, obrigadinha. E cada um ia à sua vida, com a auréola de volta ao cocoruto.
Ensinou-me a nadar numa manhã de julho.
"Não te rales, que o avô não te larga."
Quando julho chega, as piscinas abrem, e os miúdos fazem procissões de mochila às costas, lembro-me dele. De quando fazíamos o mesmo caminho pela fresca, mala numa mão, eu na outra.
"Cuidado com os carros. Anda pela beirinha."
O senhor ao portão a dizer para entrar, que filho da terra não paga. E a neta também não. O cheiro a cloro quando nos separávamos à entrada dos balneários, e o reencontro em frente ao mar azul que se podia arranjar.
Contou esta história até ao fim dos seus dias. Orgulhoso por me ter ensinado. Como se a sua existência precisasse de mais dádivas e não se sobrasse nela própria. De caminho, cumpriu pela vida toda, a promessa que me fez naquela manhã de verão.
"O avô não te larga."
E nunca largou.