Um. Dois. Três.
Uma noite destas, enroscada na ponta da cama, tremia. A desejar que fosse dia, dei por mim a dar três palmadinhas na perna.
Quando era pequena, e o colo da minha avó ainda me albergava inteira, era assim que me recebia. Um, dois, três. Três pancadinhas. Demasiado fortes para me embalarem, mas que, sem chegarem a magoar, me serenavam.
Durante toda a vida, e até hoje, que já não tenho tamanho para o tamanho que o colo dela tem, é assim que quebra os meus silêncios, mesmo que continue calada.
Mãos encolhidas pela idade que estica, chega-se a mim com um sorriso e cumpre o ritual. Uma espécie de trilogia de amor, a contar-me, três vezes, que há-de ficar tudo bem. Mesmo que agora esteja tudo mal.
Um. Dois. Três.